sábado, 29 de agosto de 2009

Provinha Brasil - Cidade de Ubatuba- Reflexão: Educação Basica base para o ensino médio

Na cidade de Ubatuba a Provinha Brasil foi aplicada em 2005 para alunos da quarta serie onde foi avaliado conhecimentos de língua portuguesa e matemática e em 2008 para a segunda serie verificando o conhecimento de escrita e leitura. A equipe de supervisores, em conjunto com as professoras Regina Dellalibera, Maria do Carmo Benício e Heloísa Pinho de Castro, da equipe de formadores da Oficina Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, são os responsáveis pela aplicação e avaliação das provas nas escolas municipais. Mas de acordo com as orientações do Mec em Provinha Brasil - Reflexões sobre a Prática (Kit Provinha Brasil), a prova deve ser aplicada e avaliada pelo professor da sala, pois é compreendido que além de trazer maior segurança para as crianças participantes da avaliação, o professor (a) é aquele que deverá saber o nível de desempenho de sua turma e a partir dos resultados junto à gestão e coordenação escolar buscar estratégias de melhora ou aprimorar o ensino, procurando fazer valer a participação dos pais neste compromisso (Reflexões sobre a Prática, 2008 pg. 5-7).
De acordo com os dados coletados, a professora entrevistada compreende a Provinha Brasil como uma avaliação diagnóstica a qual procura verificar a aprendizagem das crianças da segunda, quarta e oitava série. No entanto não foram pontuados quais são estas aprendizagens e nem como foi interpretado os resultados na instituição. No entanto, os resultados foram discutidos em HTPC (assim como as orientações para a aplicação da prova), “procurando buscar atender às necessidades especificadas pela provinha diagnosticada” o que também influenciou o PPP da unidade escolar. As famílias não foram orientas e nem obtiveram acesso aos resultados da avaliação.

A definição da Provinha Brasil e algumas reflexões


Por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais (Ceale/UFMG), o Ministério da Educação elaborou a Provinha Brasil.
A Provinha Brasil é um instrumento de avaliação diagnóstica do nível e processo de alfabetização (leitura e escrita) das crianças das redes públicas de ensino, após um ano de escolaridade. Seu principal objetivo é servir de auxilio para professores e gestores para que a partir dos resultados possam orientar suas práticas dentro da instituição de ensino, permitindo assim intervenções com vistas à correção de possíveis insuficiências apresentadas nas áreas de leitura e escrita do educando.
Essa avaliação diagnóstica da alfabetização deve ser vista a partir do olhar que vá alem de se verificar a quantidade de acertos e erros, mas identificá-los. Os diferentes resultados (erros e acertos) indicam diferentes níveis no domínio das habilidades avaliadas. O professor (a) neste sentido precisa ter uma postura investigativa e reflexiva sobre a interpretação dos resultados, ou seja, analisar com atenção cada questão respondida: ficando aberto ao pensamento cognitivo da criança; compreender a lógica, as estratégias, as hipóteses utilizadas pelo aluno.
Desta forma o professor (a) poderá reformular novas atividades a contribuir para superar as dificuldades encontradas pelo aluno; refletir sobre sua pratica desenvolvida na escola; promover espaços de debate e estudo coletivo; utilizar os resultados para planejar, propor e executar ações na sala de aula; buscar dentro do possível solução dos problemas encontrados (escrita e leitura); modificar estratégias e procedimentos de ensino; utilizar os resultados de forma que possibilitem avançar naqueles pontos em que os resultados se mostraram satisfatórios; utilizar os resultados da avaliação como material para a formação continuada de professores alfabetizadores; avaliar a distribuição dos conteúdos no ano e ao longo dos anos subseqüentes; definir quais conteúdos e capacidades irá privilegiar; compartilhar essas definições com as famílias de seus alunos, para uma parceria conjunta entre a comunidade escolar; compartilhar os objetivos e os resultados com os próprios alunos para que possam acompanhar e sentirem seguros no seu processo de aprendizagem.
Ressaltado pelo Mec no seu material impresso referente a Provinha Brasil, os resultados desta avaliação não serão utilizados na composição do IDBE (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), mas para sirva de orientação para as práticas pedagógicas dentro das instituições que poderão junto com outras iniciativas do município melhorar os resultados apresentado até o momento em relação à educação básica. No entanto fica algumas reflexões a partir da entrevista realizada, o material disponibilizado pelo Mec: A Provinha Brasil vem sendo compreendida nas Secretarias de Educação dos municípios nesta perspectiva apontada pelo Mec? As instituições de ensino estão interpretando os resultados de acordo com a proposta do Mec? Os professores têm compreendido a dimensão avaliativa e reflexiva destes resultados em relação a sua prática em sala de aula? As escolas estão procurando junto às famílias uma parceria a fim de contribuir para que as necessidades dos alunos sejam atendidas dentro de um processo sistemático, para que a alfabetização aconteça de forma satisfatória?
O principal mérito da Provinha Brasil é o fato de que a avaliação dos saberes dos estudantes é vista como um subsídio para o planejamento do ensino, de modo a atender às reais necessidades dos alunos individualmente, identificadas por meio da análise dos resultados obtidos. O fato de que gestores escolares e outros profissionais - como os coordenadores pedagógicos ou supervisores - estejam envolvidos no processo, desde a discussão que precede à aplicação, na qual se pode conhecer o objetivo e as características da avaliação, até o momento de tomadas de decisões coletivas com base na análise dos resultados. Por fim, outro aspecto positivo é o fato de que no documento Provinha Brasil - Reflexões sobre a Prática são oferecidas aos professores e gestores orientações referentes ao que fazer após a análise dos resultados, evidenciando a intenção de que o instrumento cumpra uma função diagnóstica que necessita ter continuidade com a realização de outras ações articuladas nas instituições de ensino.
Por meio dela, os professores terão chance de saber como está o nível dos seus alunos e também terão uma idéia de que tipo de proposta pode elaborar e realizar com base nos resultados. É importante destacar o caráter pedagógico da avaliação. A finalidade não é classificar as crianças, nem as escolas e municípios, mas orientar as ações pedagógicas do professor com sua turma, do coordenador com seus professores e do gestor com sua escola. Prioritário nesse sistema de avaliação é assegurar que o resultado da avaliação seja considerado na construção de uma política pública de formação para o professor, que é a conseqüência quando ele se torna um agente pesquisador, indagador e reflexivo da sua prática, sabedor dos seus direitos e deveres.
Talvez a Provinha Brasil seja uma forma eficiente de melhorar a qualidade do ensino e logo, os impactos na aprendizagem. Que esta forma de avaliação possa ser um caminho quando levando em consideração ao pensarmos no tamanho deste país e nas grandes diferenças curriculares que existem.

Referências bibliográficas

Portal do MEC - www.mec.gov.br – Acesso em: 09 fev. 2009.

INEP - http://provinhabrasil.inep.gov.br – Acesso em: 10 fev. 2009.

E – Educador. http://e-educador.com – Acesso em: 10 fev. 2009.
Portal de conteúdos referentes à educação, as políticas vinculadas e ao campo das tecnologias na educação. A concepção que orienta a proposta tem objetivo principal oferecer fundamentos para proporcionar aos educadores reflexão crítica sobre o fazer pedagógico, construção colaborativa e a valorização do trabalho docente.

Assessoria de Comunicação Social
http://www.ubatuba.sp.gov.br/noticias/view.php?id=4316 – Acesso em: 15 fev. 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Brasília: MEC Provinha Brasil – Reflexões sobre a Prática, 2008.

Por Rosa Cris Perônico

Avaliação mediadora

A avaliação é uma palavra que faz parte da vida de cada um, com grande intensidade e com significados particulares atrelada a contextos, está incorporada ao cotidiano de professores e estudantes de forma tão intensa que é, geralmente, considerada um “patrimônio” das instituições educativas, hoje promovendo debates e pesquisas sobre o assunto.
No campo educacional a avaliação está construído e constituído historicamente e como tal se transforma de acordo com os movimentos e as mudanças dos fenômenos sociais, ou seja, a escola ao longo de sua historia tem passado por transformações que dizem respeito às concepções de educação, de homem e sua participação social e por este motivo os valores embutidos no conceito de avaliação sobre a aprendizagem escolar, também passa por mudanças.
Na escola a avaliação é institucional e sistemática, pois os julgamentos que ali são feitos têm conseqüências, algumas vezes positivas, outras negativas. Ela acontece na escola de várias formas, entre tantas as mais conhecidas se dão por meio de provas, e outros. Entretanto, sabe-se há tempo que a avaliação da aprendizagem na escola vem sendo tratada de maneira impessoal e não reflexiva, tornando-se um tema amplamente discutido por diversos teóricos ligados a educação. Trata-se de um debate que busca alternativas no sentido de romper com práticas tradicionais e conservadoras, que desenvolvem uma pedagogia voltada ao exame e a classificação quantitativa dos alunos.
Nesse sentido, a avaliação assume uma função seletiva, rotulando os “menos capazes” de forma discriminatória e excludente. De acordo com (SOUZA) , a avaliação que se pratica na escola tem sido feita de forma reducionista. Aponta, ainda, que as notas são usadas para fundamentar necessidades de classificação de alunos, onde são comparados desempenhos e não objetivos que se deseja atingir, além de fazer menção de que a avaliação desta forma é limitada a um único instrumento para avaliar, a prova.
A avaliação da aprendizagem é uma questão político-pedagógico e deve sempre contemplar as concepções filosóficas de homem, de educação e de sociedade, o que implica em uma reflexão crítica e contínua da prática pedagógica da escola e sua função social.
Os novos paradigmas em educação devem contemplar o qualitativo, descobrindo a essência e a totalidade do processo educativo, pois as instituições escolares possuem o poder de conferir notas e certificados que supostamente atestam o conhecimento ou capacidade do aluno, o que torna imensa a responsabilidade de quem avalia. Pensando a avaliação apenas como aprovação ou reprovação, a nota torna-se um fim em sim mesma, ficando distanciada da relação com as situações reais de aprendizagem.
Avaliar exige que se estabeleçam critérios, para, em seguida, escolher procedimentos, inclusive aqueles referentes à coleta de dados, comparados e postos em cheque com o contexto e a forma em que foram produzidos. Nessa perspectiva, a prática da avaliação escolar não pode ser feita simplesmente de forma medida, calculada, impressa por um valor numérico. Ela precisa estar perpassada por valores construídos atrelados a aportes teóricos fundamentados para a pratica, buscando um projeto (Projeto Político Pedagógico) maior para os processos de ensino e aprendizagem que possa atender os interesses de toda comunidade escolar.
A função da avaliação é ajudar o aluno a avançar em seus conhecimentos e ao educador, buscar estratégias para que isto aconteça, determinando também quanto e em que nível os objetivos estão sendo atingidos. Para isso é necessário o uso de instrumentos e procedimentos de avaliação adequados de forma que alunos e professores estejam inseridos no processo de ensino e aprendizado significativo. A avaliação deve ser um processo contínuo que dialogue com o todo estudado e com os demais conhecimentos adquiridos fora da sala de aula, que não se resuma ao resultado produzido pela aplicação de avaliações.
Fica claro que a avaliação com base no diálogo pode promover o desenvolvimento do educando e incentivá-lo a avançar e procurar formas de transformar o meio em que vive, desmistificando, portanto, a avaliação dita tradicional. O educador, nesse caso, deve contribuir sendo mediador, incentivando a todos e à própria comunidade escolar a essa integração e participação em favor da aprendizagem significativa. A esse respeito (HOFFMANN, entrevista), contempla o significado e a importância de uma avaliação mediadora, capaz de promover uma interação entre educador e educando. O educador deve contribuir para a emancipação do educando, promovendo sua autonomia bem como a construção do conhecimento.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, determina que a avaliação seja contínua e cumulativa e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos nos sistemas de ensino. Da mesma forma, os resultados obtidos pelos estudantes ao longo do ano escolar devem ser mais valorizados que a nota da prova final. A lei vem tornar obrigatoriedade o que precisa ser buscado como meta, pela sensibilidade dos envolvidos no processo escolar como um todo. Mas Hoffmann faz umas alerta, nos diz: “a prática avaliativa não irá mudar em nossas escolas em decorrência de leis, resoluções, decretos ou regimentos escolares, mas a partir do compromisso dos educadores com a realidade social e educacional que enfrentamos”.

Considerações finais
A avaliação mediadora é uma sistematização verdadeiramente construtivista: é uma dinamização das oportunidades de ação e reflexão, um acompanhamento permanente do professor, uma prática para desafiar o aluno e uma forma de compreender suas dificuldades e o seu processo de aprendizagem. Seu objetivo é promover a construção e a organização do conhecimento. Assume seu verdadeiro papel quando trata dos erros, tomando-os como meio de construção dos conhecimentos e não como faltas graves a condenar.
O educador, ao lidar com a avaliação da aprendizagem escolar, deve ter em mente a necessidade de colocar em sua prática diária novas propostas que visem a aprendizagem efetiva, isto é ser um profissional coerente e ético, pois a avaliação é parte de um processo, e não um fim em si e deve ser utilizada como um instrumento para a formação dos educandos.
É preciso diferenciar avaliação da aprendizagem com a prática de exames. A avaliação mediadora da aprendizagem, enquanto uma forma de avaliação precisa ser inclusiva, dinâmica e construtiva, ao contrario dos exames, que são classificatórios, seletivos, excludentes; usados de forma equivocada. Esta serve para identificar como o aprendiz está se movimentando frente às novas aprendizagens, o que já é de seu domínio, os objetivos que ele ainda não alcançou e quais são as suas dificuldades. Com essas informações, o professor pode refletir sobre o processo desenvolvido na busca da compreensão sobre o que poderia ser melhorado ou que outras atividades podem ser propostas para uma maior aprendizagem.
Avaliar não é tarefa descomprometida. A avaliação, na perspectiva de construção do conhecimento, parte de duas premissas básicas: confiança na possibilidade dos educandos construírem suas próprias verdades e valorização de suas manifestações e interesses. Deixa de ser um momento terminal do processo educativo para se transformar na busca incessante de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento.
Uma avaliação mediadora, batizada pelo diálogo e pela permanente construção e reconstrução do conhecimento desenvolve a análise de hipóteses formuladas pelos educandos de suas ações e manifestações, visando essencialmente o entendimento.
Nessa tarefa, de reconstrução do processo de aprendizagem e, conseqüentemente da prática avaliativa, torna-se fundamental a postura questionadora e dinâmica do professor. A avaliação é a reflexão transformada em ação. Prática essa, que impulsiona a novas reflexões. Um processo interativo, através do qual educandos e educadores aprendem sobre si mesmos e sobre a realidade escolar no ato próprio da avaliação.
Segundo Hoffmann as situações de aprendizagens são evoluídas e singulares. Não se corrigem, nem se somam, mas se interpretam, exigindo, portanto, reflexão séria, com base em conjunto sólido de observações e dados, de cada área de conhecimento e assegurando uma visão positiva e confiante sobre o potencial do aluno. Toda a relação de saber se dá a partir da interação do sujeito com os objetos de conhecimento, da relação com os outros e da relação consigo próprio.



Referencias bibliográficas:
BRASIL. Lei nº. 9394, de 20 de dezembro de 1996. LDB. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm Visitado em: 24/03/09
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico: Diretrizes para leitura, analise e interpretação de textos. São Paulo, Cortez, 2002. 2. Ed. pg. 47-61.

Textos sugeridos para leitura
TV Escola: Entrevista com Jussara Hoffman - Avaliação e Aprendizagem.
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma relação dialógica na construção de conhecimento.
SOUZA, Clarilza Prado de. Avaliação Escolar: limites e possibilidades.

Por Rosa Cris Perônico

Projeto Político-Pedagógico: Conceito, características e utilidades dentro do sistema de ensino

A escola possui uma identidade própria que se constitui sob a influencia local e de suas diretrizes teóricas, o que nem sempre é reconhecido por ela mesma, o que acaba reduzindo suas capacidades de articulação de organização e autonomia, ficando apenas em ser uma instituição meramente burocrática. Compreendemos que a construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico é, justamente, uma possibilidade de reconhecimento dessa identidade, de reflexão e planejamento das práticas pedagógicas nas instituições de ensino.
Trata-se de um instrumento que permite esclarecer a ação educativa da instituição em sua totalidade. Neste sentido este instrumento tem como propósito a explicitação dos fundamentos teórico-metodológicos, dos objetivos, formas de avaliação, do tipo de organização de tudo que envolve o contexto escolar. Constam as principais características da escola. Nele, está presente a concepção de educação da escola, bem como, suas estratégias para este fim; retrata como é elaborado e quem participa do seu processo de construção. O P.P.P. é, portanto, a identidade da escola.
Contudo, sua elaboração ou (re) elaboração, enquanto projeto de educação, significa pensar e analisar de forma crítica, reflexiva e flexível à realidade em toda a sua extensão e que é uma atitude imprescindível à realização bem sucedida daquilo que se propõe. Implica antever o tipo de escola que a comunidade escolar pertence e pretende pertencer, considerando suas necessidades e possibilidades, a partir de uma reflexão de conceitos fundamentais de ser humano, escola, enquanto intuição social, e sociedade. Sendo a educação uma responsabilidade social é, portanto, de patrimônio público, exigindo uma gestão democrática e, contribuindo para formar cidadãos capazes de refletir de forma critica a realidade na qual está inserido e exercer participação cidadã em seu meio. Portanto, elaborar um projeto de educação implica pensar o tipo e qualidade de escola, a concepção de homem e de sociedade que se pretende construir.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) é uma oportunidade que a equipe escolar coordenação pedagógica e os demais membros da comunidade escolar podem tomar nas mãos as rédeas de sua escola, definindo através dele o tipo de gestão que terão as ações, os objetivos a serem alcançados a partir dessas ações. Além de possibilitar que as experiências de cada um sejam valorizadas e usadas na busca de uma educação democrática, inclusiva e de qualidade.

Métodos utilizados para desenvolvimento do trabalho

Desenvolvemos esta reflexão com base na leitura de textos sugeridos pela professora orientadora na disciplina de Avaliação e Planejamento do curso de Pedagogia da Universidade Interativa COC e nas entrevistas com profissionais da educação da rede publica de ensino do município de Ubatuba, dentre eles: uma professora e coordenadora do ensino fundamental; um professor de Artes; uma diretora da rede estadual de ensino; funcionária de uma escola da rede estadual e supervisora da Secretaria de Ensino do Estado de São Paulo. Utilizamos a técnica de entrevista semi - estruturada . Nosso objetivo nesta reflexão é compreender o conceito e a função do projeto político pedagógico nas instituições de ensino e por este motivo os nomes das escolas e entrevistados não foram divulgados nas entrevistas anexadas, por não ter relevância.

Considerações a partir das entrevistas

De acordo com os dados coletados, na prática, a elaboração e execução do P.P.P. não são facilmente executáveis, por exemplo, a participação da comunidade. Participar da elaboração é uma necessidade sim, mas é dificultada pela falta de informação e planejamento da instituição para que esta ocorra. Isto é agravado pela falta de tempo dos profissionais e interesse da população, o que torna a participação efetiva deles na elaboração do projeto quase que inexistente. Outro problema apontado é a gestão democrática da instituição ser defasada. GADOTTI em relação à voz democrática citou que a importância da participação se dá em vários aspectos e é preciso lutar para tentar mudar a consciência desta de todos os envolvidos no contexto escolar, e essa democracia pode começar sendo incluída no P.P.P. da escola buscando a participação da comunidade.
Outro ponto relevante citado nas entrevistas foi à falta de tempo e motivação do professor na orientação da construção deste projeto. Muitas vezes, seu trabalho é orientado por uma grade curricular pronta (nas escolas estaduais) e projetos (nas escolas municipais) seguidos e estabelecidos pelas secretarias de educação. Desta forma, o professor desenvolve muito pouco em cima do assunto, esquivando-se da participação da elaboração de um projeto mais elaborado, pois vai lhe consumir tempo o qual é escasso devido à sua rotina massiva e desgastante de aulas em vários turnos e instituições diferentes, fato já citado por Ilma Passos em sua entrevista.
O professor é um agente de extrema importância na elaboração do projeto por estar por dentro do que deve ser melhorado na educação e na instituição em que trabalha. Ele é quem está na sala de aula, em contato com os alunos e ninguém melhor do que ele para observar falhas e contribuir na ajuda da busca de soluções. O desafio está em motivar o professor nesta participação, fazê-lo perceber a sua importância, sem ele não há educação, logo, escola e a existência de um P.P.P. completo e de qualidade. Articular todos os profissionais da educação e comunidade na elaboração do projeto é um desafio: “Não há como contar de uma vez só com todos os profissionais. Sempre haverá falta, mas comece com os poucos que estão dispostos a melhorar a qualidade da educação na sua escola. Conte como um depois, com dois e depois com três. Junte os mais entusiasmados com os que não estão ainda sensibilizados para a importância do projeto da escola.” Neste contexto a idéia é “ampliar a rede de cooperação” para todos os membros da escola e comunidade participem da elaboração deste projeto.
Em relação aos momentos de elaboração deste projeto, ficou claro que esta acontece no período do planejamento escolar, geralmente no inicio do ano. Desta forma, compreendemos o caráter deste documento como projeto flexível, que pode ser repensado, reformulado, com toda a equipe buscando sempre melhorar o andamento da instituição. Este movimento de repensar pode acontecer durante o ano, de um ano para outro, objetivando a busca da organização e identidade da escola.
A direção da escola, mais especificamente a diretora aparece como um agente importante no processo da construção, direcionamento, na liderança do projeto, “o diretor da escola é o líder, é o que fomenta as ações” (...). “Estabelecendo confiança e delegando tarefas.” Muitas vezes este profissional é o que reformula o projeto dentro de uma necessidade burocrática de funcionamento da escola, talvez pela própria questão do tempo como já foi citado, mas é compreendido na coleta de dados que a construção do projeto é de responsabilidade do coletivo e não da diretora: (...) “o P.P.P. não é da responsabilidade do diretor é da responsabilidade do coletivo; professores, coordenadores, funcionários, os pais, representante dos alunos. É da responsabilidade de todos. Assim, neste processo é possível que um professor ou mais depois liderem também a construção”.

Conclusões finais
O conceito do Projeto Político Pedagógico que é orientado pela participação, autonomia, democracia, liberdade, particularidade e suas formas de operacionalização precisam ser rediscutidos no âmbito do espaço escolar, para que se cumpra efetivamente seu papel de eixo norteador na gestão democrática da escola.
Analisando a LDB encontram-se, principalmente nos Artigos 12º, 13º e 14º, elementos norteadores legitimando a participação conjunta na estruturação e execução do projeto político pedagógico:

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica
[...]
VII - informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.
Art. -13. Os docentes incumbir-se-ão de:
I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
II – elaborar e cumprir um plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
[...]
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes;
(Lei de diretrizes e bases da educação nacional - LDB)

A LDB 9394/96 propõe princípios da gestão democrática, no qual a ação educativa deverá ser construída com a participação de todos envolvidos no seu contexto. O grande desafio lançado às escolas é a construção do seu projeto educativo. Nenhum Projeto Político-Pedagógico pode ser considerado como receita que pode ser transferida para uma outra realidade, uma vez que a principal condição para que este projeto tenha êxito é a sua identidade enraizada no contexto social-cultural de um grupo, de uma escola sendo uma construção feita pelos sujeitos inseridos neste contexto. A escola, hoje, precisa aproveitar a abertura que a lei proporciona para a construção do seu Projeto Político Pedagógico e, por conseqüência, seu regimento.
No artigo 12, fica clara a autonomia da escola para elaborar e executar sua proposta política e, logo a seguir, o artigo 13 incumbe os docentes de participar da elaboração desta proposta. Assim, o Projeto Político-Pedagógico deve ser elaborado com a participação de todos os integrantes da comunidade escolar, no qual devem chegar a um denominador comum sobre a adequação deste, à realidade da escola. Todos os envolvidos devem estar conscientes de que devem contribuir para o êxito da proposta.
Este projeto deve ser construído e utilizado em todos os momentos por todos os envolvidos com o processo educativo da escola, sendo a síntese de todo o projeto de formação, da concepção política adotada e das opções pedagógicas e metodológicas que deverão, em sala de aula e nas diversas práticas escolares permitir a efetivação de praticas inovadoras, capazes de concretizar os sonhos, os anseios, as aprendizagens de fato, os desejos, as necessidades da formação permanente dos sujeitos educativos.
Conclui-se que a tarefa de (re) pensar, (re) construir, (re) significar o processo conjunto de reflexão e participação da comunidade escolar pode ser sustentada na legalidade e na teoria, o que falta, muitas vezes, é a prática. Esta exige implicação e reflexão para que o projeto político pedagógico possa assumir no cotidiano a função de projeto norteador da escola. Processos reflexivos, de (re) construção podem ser priorizados no contexto escolar, para que o projeto político pedagógico possa ser um edificador e sustentador dos fazeres escolares. Assim, diminuindo os desencontros e possibilitando maiores encontros entre teoria e prática.
Este projeto talvez não possa atender todas as necessidades de escola, pois esta “é influenciada também por fatores externos. É um espaço perpassado por muitas variáveis”. Mas é no planejamento, na articulação entre os participantes de toda comunidade escolar que pode ser encontrado caminhos e soluções: “Realizando um diagnóstico preciso dos problemas, também das potencialidades da escola. A partir deste estudo, então, proceder com a discussão conjunta a fim de pensar estratégias de enfrentamento dos problemas. É importante colocar metas a curto, médio e longo prazo”.
As entrevistas nos deixam claro que a falta do projeto político pedagógico planejado, articulado nas instituições de ensino, torna a escola uma instituição burocrática no cumprimento de currículos apenas, sem a identidade da sua comunidade, deixa de fora a oportunidade da participação conjunta de pais, alunos, funcionários, professores, coordenadores, diretor.

“(...) se fosse ajudar no melhor funcionamento da escola, com certeza eu adoraria participar”. (funcionaria de escola).


Referências bibliográficas

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm
Visitado em: 08/03/09
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo, Cortez, 2002. 2. ed.

Textos sugeridos para leitura:
GADOTTI, Moacir. O projeto político pedagógico da escola: na perspectiva de uma educação para a cidadania.

LONGHI, Simone Raquel Pagel; Bento, Karla Lucia. Projeto político pedagógico: uma construção coletiva.

Entrevista Com a Profª Drª Ilma Passos Alencastro Veiga.

Valdete Boni e Sílvia Jurema Quaresma: Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC. Vol. 2 nº 1 (3), janeiro-julho/2005, p. 75.


Por Rosa Cris Perônico

Qual a importância do planejamento do ensino para o trabalho do professor?

De acordo com José Cerchi Fusari, “[...] a ausência de um processo de planejamento do ensino nas escolas, aliada às demais dificuldades enfrentadas pelos docentes no exercício do seu trabalho, tem levado a uma contínua improvisação pedagógica nas aulas. Em outras palavras, aquilo que deveria ser uma prática eventual acaba sendo uma "regra", prejudicando, assim, a aprendizagem dos alunos e o próprio trabalho escolar como um todo”.


A educação segundo LIBÂNEO é compreendida como o conjunto de processos, influências, estruturas e ações que intervêm no desenvolvimento de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social num determinado contexto de relações entre grupos e classe sociais visando à formação do ser humano.
Partindo destas definições, a educação como uma esfera social complexa das relações humanas pode definir qual é o ideal de homem e mulher que a sociedade pretende formar. Neste sentido, o planejamento de ensino está muito mais além do trabalho burocrático nas instituições e de regras a serem executadas pelo professor, mas implícito na sua organização e prática na formação integral do educando. As manifestações de toda ordem no ambiente escolar será a correspondência de seu planejamento, ou seja, teremos alunos participativos, críticos, reflexivos, leitores, escritores, que manifesta suas percepções através da arte, que dança, canta, trocas suas experiências no contexto ensino-aprendizagem, se for oferecidos e compartilhados meio para tal.
A meu ver o planejamento de ensino deve ser visualizado de forma global dos objetivos que se pretende alcançar. Neste contexto, o planejamento do professor não é feito de forma isolada, mas em conjunto com a escola. A improvisação do planejamento de ensino na escola acontece por muitos fatores e um deles é não a ver a escola como um organismo vivo, presente e de forma multidisciplinar, ou seja, não posso pensar nos meus planos de aulas sem pensar no plano de ensino da escola; não posso pensar em regimento interno sem levar em conta o plano de ensino da escola. Não posso pensar em plano de ensino, regimento e planos de aula sem levar em conta para quem estes estão sendo direcionados. Qual é o objetivo da instituição? Quais são seus aparatos teóricos e filosóficos que inclui todos que participam dela? De que forma, como ela pretende alcançar seus objetivos e por quê?
O planejamento do professor é o percurso prático que se movimenta de forma critica e reflexiva diante de seu trabalho docente. Nesta perspectiva, seu planejamento está atrelado aos seus aportes teóricos, filosóficos alinhados ao seu compromisso ético com a democratização do ensino ao preparar suas aulas, por exemplo. Quando tem claros os objetivos de seu planejamento vê o aluno como pessoa, sabe dele, prepara para ele, compreende como este aprende e transcende, mais além do que apresentar conteúdos apenas. A aula no contexto da educação escolar é uma parte curricular a qual concretiza efetivamente a construção do processo de ensinar e aprender. Uma parte! O que significa que a organização dos espaços, os materiais oferecidos, a forma como o professor se relaciona com estes e áreas do Conhecimento e oferecem isto aos seus alunos, fazem parte do planejamento do professor e da escola.
A importância do planejamento de ensino para o trabalho do professor é acima de tudo o compromisso que a escola e o corpo docente têm com seus educandos, com a educação e sociedade brasileira.

Referencias bibliográficas
FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e tentativas de respostas. Idéias, São Paulo, n. 8, p. 44-58, 1990.
LIBÂNEO, José C. Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas. Educar em Revista, v. 17, p. 153-176, 2001.


Por Rosa Cris Perônico

Subsídios para a organização do trabalho docente

Subsídios para a organização do trabalho docente

A escola escolhida E. M. (V. M. S. L.) está situada no município de Ubatuba e no seu Projeto Político Pedagógico não há esclarecimentos ou direcionamentos de ações com relação à compreensão da sociedade atual e as exigências que esta faz a escola, embora sejam pontos percebidos no dia a dia do contexto educacional da instituição e uma necessidade a direcionar idéias e ações para esta compreensão, quando conversamos com professores, a diretora e coordenadora da escola. Mas o que não é compreendido, está relacionado a importância da elaboração coletiva do Projeto Político Pedagógico e que este documento está muito mais além de uma formulação burocrática. Este projeto é o dará todo o direcionamento de ações de tudo que envolve o contexto educacional em uma instituição de ensino.
A escola pela função que exerce de compartilhar e reprodutora da vida comunitária, sofre todas as conseqüências de não ter claro suas ações e objetivos e não consegue se preparar para enfrentar as exigências do mundo atual (informatização e tecnologia, por exemplo). Necessário se faz que as escolas construam Projetos Pedagógicos, a partir de princípios dialógicos do planejamento participativo e coletivo no continuo propósito de se utilizar o diálogo como estratégia para solução de problemas da comunidade escolar.
A educação pode ser entendida como instrumento de promoção de mudanças na sociedade, pois trata da mobilização das pessoas, e da mobilização das estruturas sociais e econômicas de uma comunidade, de um município, de um estado, do Brasil. A educação é um instrumento de transformação para a sociedade, pois trabalha com valores de liberdade associado aos valores de responsabilidade, ou seja, a ação participante e reflexiva cidadã de grupos inseridos no contexto (sociedade).
A escola de hoje precisa formar cidadãos mais preparados e qualificados para atuar no seu meio social. Para isso, o ensino deve contribuir para prover uma formação global para a vida, desenvolver conhecimentos para o exercício da cidadania, da ética, da solidariedade da sociedade que queremos e significamos.
Para os educadores é necessário destacar que educar para transformar, significa atuar em processos constituídos dialogicamente pelos diversos setores da sociedade, ou seja, a escola é a instituição que transporta para dentro de seu contexto, os contextos vivenciados pela comunidade na sociedade como um todo (manifestações culturais, política, religiosas, tecnológicas). Educar para liberdade e responsabilidade é reconhecer os sujeitos sociais e suas especificidades. Educar para transformar é fornecer, no processo educativo, as condições para a ação modificadora dos indivíduos e grupos sociais, é trabalhar a partir da realidade cotidiana com o objetivo de superar as relações de dominação e exclusão características e da sociedade atual.
Considerando que nós homens somos seres em constante formação, também assim deve ser a educação: contínua e constantemente replanejada pela e para as que as praticas educacionais sejam significativas.
O conhecimento produzido pela humanidade transforma-se na cultura escolar que compõe o currículo e a principal qualidade das escolas deve ser o seu caráter democrático para priorizar e valorizar esta cultura. Esse currículo vigente em nossas escolas precisa ser redimensionado para agregar temas relativos a questões de classe social, etnia, gênero alicerçados nos princípios da cidadania e da democracia.
Cipriano Luckesi em seu artigo discute o processo ensino-aprendizagem e utiliza-se de vários recursos teóricos com o objetivo de auxiliar os professores no seu trabalho. Dentre as idéias do autor é destacado:

(...) para um exercício organizado da prática docente, importa:
• Ter clareza da direção que a sociedade dá a pratica educativa;
• Proceder a critica desta direção, verificando tanto se ela nos satisfaz ou não como as razões desse entendimento;
• Definir a direção que efetivamente desejamos dar à nossa prática.

“... assumimos que o fim político da ação educativa crítica é trabalhar no sentido de que todos os cidadãos tenham acesso e permanência dentro do processo escolar, sendo-lhes garantida uma aprendizagem satisfatória e significativa dos conteúdos científicos e culturais, sistematizados através dos currículos. Todo cidadão tem direito de acesso aos conhecimentos e habilidades necessários a viver bem nesta sociedade."
"A aprendizagem ativa é aquela que é construída pelo educando a partir de sua interação com os conteúdos socioculturais. (...) exige também um ensino ativo. O educador, ao trabalhar com seus educandos, deverá estar atento para propor conteúdos e atividades que lhes possibilitem aprender pela ação."
"A aprendizagem deve, ainda, ser inteligível. O conhecimento que se adquire deverá possibilitar a iluminação da realidade; deverá possibilitar que o educando penetre nos mistérios e nas conexões com a realidade, desvendando-os. Assim, no conhecimento adquirido, é preciso que o educando obtenha um instrumento de compreensão da realidade."
"Por 'assimilação receptiva' entendemos a recepção atenta e inteligível que o educando tem de um conhecimento, de um princípio, de uma análise elaborada. O educando é receptivo, mas não passivo. (...) O receptor está ativo enquanto recebe."
"O docente, em sua atividade intencional, deverá organizar o seu trabalho, tendo em vista executar mediações que conduzam à consecução dos objetivos estabelecidos. Se tem como meta o trabalho pela democratização da sociedade e se compreende que esta não pode ocorrer sem que os sujeitos possuam sua independência, importa que o educador, como profissional que tem claro que o setor da Educação é uma das mediações sociais que podem servir à luta pela democratização, deverá ter conhecimentos dos fins a serem obtidos, assim como dos princípios e meios científicos e tecnológicos disponíveis para a obtenção do que se traçou como resultado final de seu trabalho."
Mas isso não basta. Os atores do contexto escolar devem dar importância maior à qualidade das relações que são estabelecidas na escola, que ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura de participação, ação, da emancipação social, fora do significado do ser, de ser humano e do significado da vida. Esse caminho procura contribuir com a construção da autonomia da escola, dos educadores e dos educandos em uma dimensão mais ampla, com a autonomia da própria realidade social hoje e isso se faz pelo dialogo tão escasso pela questão de tempo e a falta de um projeto que identifique a escola inserida numa comunidade.

Por Rosa Cris Perônico

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Percepções de Professora(o): O Jardim Secreto


Para Abramovich que dedicou a Freire.

Fazer uma reconstrução da vida escolar me fez compreender que a criança entende seus processos de aprendizagem de forma diferente da que o adulto lhe apresenta. E que a escola é mais que um espaço de ensinar e aprender, é um lugar de encontros, reencontros e descobertas subjetivas sobre o mundo de cada um que participa deste.
Minhas recordações estão mais na interação do espaço físico do que com professores e colegas. Inicia-se aos oito anos na primeira série em um colégio do estado E.E.P.S.G. Professor Adolfino Arruda Castanho. Assustador é pensar na estrutura física, salas, imensos corredores, escadarias que levavam ao terceiro andar, pátios, quadras, banheiros, refeitório, pequenos jardins e o encantado bosque que me fazia perder as horas e esquecer que estava na escola.
Era o meu jardim secreto! Conhecia cada espaço e cada ser vivo que habitava ali parecia que me esperavam todos os dias. A entrada discreta não deixava pistas de que naquele abandonado espaço poderia ter o interesse conjugado de uma criança. Era praxe cruzar o pátio deserto e encontrar um adulto com olhar irritado me puxando pelo braço conduzindo-me até a sala de aula. Quem era aquela pessoa? O que dizia? Hoje posso deduzir que se tratava da inspetora. Literalmente sentia com todos os meus sentidos a brusca mudança espacial, de um lugar de encantos e descobertas meu, para um lugar quadrado, frio, fechado e que não compreendia o que significava e mais não me pertencia.
Todos os dias a cartilha me consumia. “Eva viu a uva”; “o bebê baba”; “o dedo dói”. Sim meu dedo doía, hoje tenho calo do esforço e tentativa em aprender a ler e escrever. Edite é uma professora inesquecível! Seu porte físico não recordo, mas seu olhar, suas atitudes estão impregnadas nas gavetas do subconsciente. “Faça de novo!” Que letra horrorosa! ”Leia, Leia... Como não sabe?” “Vá para a fila do abacaxi!” A fila do abacaxi era onde ficavam aqueles julgados e conjurados ao método do repetir quantas vezes fossem necessárias até aprender escrever; ler uma palavra; frase ou atingir a perfeição dos exercícios motores gráficos. Não tenho recordações de afetos, cuidados, interesses pelo o que poderia ser o certo que eu acreditava. Parecia-me que o tempo todo eu era uma pessoa errada, no lugar errado, na hora errada e fazendo o errado. Que sacrifício ganhar “um certo” com a sua caneta azul! Meu caderno era repleto de tinta vermelha com imensos “Xs”, me lembrando o tempo todo que eu estava errada.
Nestas condições só o jardim me interessava. Ângela doce criatura! Como poderei esquecer daquela que significou o que eu mais apreciava. Do jardim secreto meu, tornou-se nosso! Os contos de fadas, as musicas, eram recontados ali nos cenários improvisados e fantasias de jornais. As aulas de ciências, matemática eram contextualizadas nos cenários naturais do espaço. Estar com Ângela era ser cientista mirim. Falava com paixão sobre os insetos, árvores pássaros e ervas daninhas. Compartilha um mundo fora das frias e quadradas paredes da sala de aula. Não me recordo de os cadernos serem manchados com a tinta vermelha da caneta, nem de serem rasgados ou jogados no lixo por causa das orelhas. Lembro-me de uma pele negra, cabelos trançados e um largo sorriso que dizia “o que eu não sei hoje posso aprender amanhã!” Ela nos recordava dessas palavras todos os dias e era um conforto, sabia que estava no lugar, na hora e com a pessoa certa, livre para apreender o que pode ser necessário e significativo a vida escolar.
O jardim secreto hoje, representa mais do que toda aquela beleza perceptível. É a representação do que há de secreto em mãos querendo manipular, experimentar, das percepções infantis que busca incansável apreender e compreender o mundo que a cerca. É o oculto do potencial que há em cada pessoa em desenvolvimento, seja qual for sua idade em interação com diferentes Ciências e áreas do Conhecimento. É o método desconhecido e experimentado pelo docente buscando acertar nas tentativas desse ir e vir dos contextos escolares.
Sonho com a escola da professora Ângela, um lugar aberto a todas as possibilidades de encantar, que olha o aluno vivo, inquieto e participante; com professores que não temam suas duvidas; uma escola viva, posta no mundo e ciente que estamos no século XXI.
Neste sentido nós professores, comunidade escolar e Estado precisamos repensar o processo educacional e tudo que o envolve de forma que seja compreendido que é preciso mais do preparar pessoas para o mercado de trabalho ou lhe apresentar um mero acumulo de informações. Mas para a vida, como uma pessoa inteira, visualizar: sua afetividade; percepções do mundo; seus sentidos; criatividade; crítica; participação; sua identidade cidadã.
A escola é também o lugar possível para que aluno possa ampliar seus referenciais de mundo; encorajar e engajar simultaneamente todas as linguagens (escrita, musical, dramática, cinematográfica, corporal, poética...). Ela pode derrubar as paredes frias e quadradas saindo sempre que possível do referencial lousa, giz, voz e cadernos para um lugar mais significativo, vivo, participativo, compartilhado, aberto, inquieto, dinâmico, flexível, reflexível do nosso cotidiano pedagógico. Fazer da prática docente uma atitude de liberdade no sentido de desmistificar o burocrático do trabalho incansável e insensato que julga, oprime, culpa professores e alunos no processo marginalizado do fracasso escolar. Como desafio reaprender outras formas de se participar do fenômeno educacional, novas relações educativas baseadas no fazer junto com alunos, professores, escola e comunidade: integralizar as Ciências e não compaquitá-las; avaliar os processos educativos não só dos alunos, mas nossa (professores) e deles em comunhão com tudo que envolve o contexto escolar (espaço físico prédio e ambientes; recursos materiais; metodologia; aportes teóricos e filosóficos; o preparo adequado dos funcionários tanto de suas funções quanto no trato das crianças, jovens e adultos que freqüenta a escola); construir o pensamento da realidade heterogênea de mundo, do todo e não só das partes; refletir a pratica educativa para que a escola seja facilitadora na construção da subjetividade dos alunos, para que possam interpretar o mundo em que vive e ser o senhor de sua própria história. Precisamos reaprender a não "coisificar" a nossa história educacional, a nossa pratica, os nossos alunos, a escola em que trabalhamos, a nossa identidade profissional e cidadã. Podemos compreender que tudo que envolve o ser humano são construções e aprendizado constante. Ninguém nasce pronto e acabado, mas com sentidos vivos para a busca de saberes.
O jardim secreto da educação é a escola, um lugar que é muito mais do que uma estrutura de concreto. É um lugar onde alunos, professores e toda a comunidade escolar podem se encantar. É o lugar onde pessoas se encontram, compartilham saberes e repensam, reconstroem o mundo.


Mascara de professora (or)

Não sou carcereira (o)
E nem tenho o dom de carrasca (o)!

Não tenho paciência com as ordens de meu "rei"
Suas escolhas não são sabias!

Sou prisioneira (o) do fracasso humano!
Conduzo pessoas a participarem deste fracasso.
Então qual é a minha profissão?
Fabricar fracassos?
Pessoas que fracassam?

Fracassar é não ter a liberdade de escolha.
O fracasso conduz ao medo
E o medo é uma doença.

A doença mata os seres
Os seres mortos não sabem que morreram.
Mas há cura!
A cura está no valor à vida
Está no significado de ser
Do ser
Estar
Poder
Querer
Escolher
Precisar
Gostar
Fazer parte.

Conduza o homem à liberdade e eu o segurei.

cristinaperonico@gmail.com