sábado, 29 de agosto de 2009

Avaliação mediadora

A avaliação é uma palavra que faz parte da vida de cada um, com grande intensidade e com significados particulares atrelada a contextos, está incorporada ao cotidiano de professores e estudantes de forma tão intensa que é, geralmente, considerada um “patrimônio” das instituições educativas, hoje promovendo debates e pesquisas sobre o assunto.
No campo educacional a avaliação está construído e constituído historicamente e como tal se transforma de acordo com os movimentos e as mudanças dos fenômenos sociais, ou seja, a escola ao longo de sua historia tem passado por transformações que dizem respeito às concepções de educação, de homem e sua participação social e por este motivo os valores embutidos no conceito de avaliação sobre a aprendizagem escolar, também passa por mudanças.
Na escola a avaliação é institucional e sistemática, pois os julgamentos que ali são feitos têm conseqüências, algumas vezes positivas, outras negativas. Ela acontece na escola de várias formas, entre tantas as mais conhecidas se dão por meio de provas, e outros. Entretanto, sabe-se há tempo que a avaliação da aprendizagem na escola vem sendo tratada de maneira impessoal e não reflexiva, tornando-se um tema amplamente discutido por diversos teóricos ligados a educação. Trata-se de um debate que busca alternativas no sentido de romper com práticas tradicionais e conservadoras, que desenvolvem uma pedagogia voltada ao exame e a classificação quantitativa dos alunos.
Nesse sentido, a avaliação assume uma função seletiva, rotulando os “menos capazes” de forma discriminatória e excludente. De acordo com (SOUZA) , a avaliação que se pratica na escola tem sido feita de forma reducionista. Aponta, ainda, que as notas são usadas para fundamentar necessidades de classificação de alunos, onde são comparados desempenhos e não objetivos que se deseja atingir, além de fazer menção de que a avaliação desta forma é limitada a um único instrumento para avaliar, a prova.
A avaliação da aprendizagem é uma questão político-pedagógico e deve sempre contemplar as concepções filosóficas de homem, de educação e de sociedade, o que implica em uma reflexão crítica e contínua da prática pedagógica da escola e sua função social.
Os novos paradigmas em educação devem contemplar o qualitativo, descobrindo a essência e a totalidade do processo educativo, pois as instituições escolares possuem o poder de conferir notas e certificados que supostamente atestam o conhecimento ou capacidade do aluno, o que torna imensa a responsabilidade de quem avalia. Pensando a avaliação apenas como aprovação ou reprovação, a nota torna-se um fim em sim mesma, ficando distanciada da relação com as situações reais de aprendizagem.
Avaliar exige que se estabeleçam critérios, para, em seguida, escolher procedimentos, inclusive aqueles referentes à coleta de dados, comparados e postos em cheque com o contexto e a forma em que foram produzidos. Nessa perspectiva, a prática da avaliação escolar não pode ser feita simplesmente de forma medida, calculada, impressa por um valor numérico. Ela precisa estar perpassada por valores construídos atrelados a aportes teóricos fundamentados para a pratica, buscando um projeto (Projeto Político Pedagógico) maior para os processos de ensino e aprendizagem que possa atender os interesses de toda comunidade escolar.
A função da avaliação é ajudar o aluno a avançar em seus conhecimentos e ao educador, buscar estratégias para que isto aconteça, determinando também quanto e em que nível os objetivos estão sendo atingidos. Para isso é necessário o uso de instrumentos e procedimentos de avaliação adequados de forma que alunos e professores estejam inseridos no processo de ensino e aprendizado significativo. A avaliação deve ser um processo contínuo que dialogue com o todo estudado e com os demais conhecimentos adquiridos fora da sala de aula, que não se resuma ao resultado produzido pela aplicação de avaliações.
Fica claro que a avaliação com base no diálogo pode promover o desenvolvimento do educando e incentivá-lo a avançar e procurar formas de transformar o meio em que vive, desmistificando, portanto, a avaliação dita tradicional. O educador, nesse caso, deve contribuir sendo mediador, incentivando a todos e à própria comunidade escolar a essa integração e participação em favor da aprendizagem significativa. A esse respeito (HOFFMANN, entrevista), contempla o significado e a importância de uma avaliação mediadora, capaz de promover uma interação entre educador e educando. O educador deve contribuir para a emancipação do educando, promovendo sua autonomia bem como a construção do conhecimento.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, determina que a avaliação seja contínua e cumulativa e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos nos sistemas de ensino. Da mesma forma, os resultados obtidos pelos estudantes ao longo do ano escolar devem ser mais valorizados que a nota da prova final. A lei vem tornar obrigatoriedade o que precisa ser buscado como meta, pela sensibilidade dos envolvidos no processo escolar como um todo. Mas Hoffmann faz umas alerta, nos diz: “a prática avaliativa não irá mudar em nossas escolas em decorrência de leis, resoluções, decretos ou regimentos escolares, mas a partir do compromisso dos educadores com a realidade social e educacional que enfrentamos”.

Considerações finais
A avaliação mediadora é uma sistematização verdadeiramente construtivista: é uma dinamização das oportunidades de ação e reflexão, um acompanhamento permanente do professor, uma prática para desafiar o aluno e uma forma de compreender suas dificuldades e o seu processo de aprendizagem. Seu objetivo é promover a construção e a organização do conhecimento. Assume seu verdadeiro papel quando trata dos erros, tomando-os como meio de construção dos conhecimentos e não como faltas graves a condenar.
O educador, ao lidar com a avaliação da aprendizagem escolar, deve ter em mente a necessidade de colocar em sua prática diária novas propostas que visem a aprendizagem efetiva, isto é ser um profissional coerente e ético, pois a avaliação é parte de um processo, e não um fim em si e deve ser utilizada como um instrumento para a formação dos educandos.
É preciso diferenciar avaliação da aprendizagem com a prática de exames. A avaliação mediadora da aprendizagem, enquanto uma forma de avaliação precisa ser inclusiva, dinâmica e construtiva, ao contrario dos exames, que são classificatórios, seletivos, excludentes; usados de forma equivocada. Esta serve para identificar como o aprendiz está se movimentando frente às novas aprendizagens, o que já é de seu domínio, os objetivos que ele ainda não alcançou e quais são as suas dificuldades. Com essas informações, o professor pode refletir sobre o processo desenvolvido na busca da compreensão sobre o que poderia ser melhorado ou que outras atividades podem ser propostas para uma maior aprendizagem.
Avaliar não é tarefa descomprometida. A avaliação, na perspectiva de construção do conhecimento, parte de duas premissas básicas: confiança na possibilidade dos educandos construírem suas próprias verdades e valorização de suas manifestações e interesses. Deixa de ser um momento terminal do processo educativo para se transformar na busca incessante de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento.
Uma avaliação mediadora, batizada pelo diálogo e pela permanente construção e reconstrução do conhecimento desenvolve a análise de hipóteses formuladas pelos educandos de suas ações e manifestações, visando essencialmente o entendimento.
Nessa tarefa, de reconstrução do processo de aprendizagem e, conseqüentemente da prática avaliativa, torna-se fundamental a postura questionadora e dinâmica do professor. A avaliação é a reflexão transformada em ação. Prática essa, que impulsiona a novas reflexões. Um processo interativo, através do qual educandos e educadores aprendem sobre si mesmos e sobre a realidade escolar no ato próprio da avaliação.
Segundo Hoffmann as situações de aprendizagens são evoluídas e singulares. Não se corrigem, nem se somam, mas se interpretam, exigindo, portanto, reflexão séria, com base em conjunto sólido de observações e dados, de cada área de conhecimento e assegurando uma visão positiva e confiante sobre o potencial do aluno. Toda a relação de saber se dá a partir da interação do sujeito com os objetos de conhecimento, da relação com os outros e da relação consigo próprio.



Referencias bibliográficas:
BRASIL. Lei nº. 9394, de 20 de dezembro de 1996. LDB. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm Visitado em: 24/03/09
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico: Diretrizes para leitura, analise e interpretação de textos. São Paulo, Cortez, 2002. 2. Ed. pg. 47-61.

Textos sugeridos para leitura
TV Escola: Entrevista com Jussara Hoffman - Avaliação e Aprendizagem.
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma relação dialógica na construção de conhecimento.
SOUZA, Clarilza Prado de. Avaliação Escolar: limites e possibilidades.

Por Rosa Cris Perônico

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